Olá, Bem Vindo ao Cenas, Cenários & Senões

Publico aqui textos de observação do cotidiano na forma de crônicas e contos.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Farelos

As filas são sempre monótonas, no cartório um pouco mais, só resta observar o carimbo repetitivo e implorar para a pilha de papéis seja pequena.

Em uma destas esperas chega atrás de mim na fila um trio. Dois homens e uma loura discutindo a burocracia que lhes pertence.
Os homens discutiam alto todas as alternativas possíveis para escapar da fila e a loura dispensada sentou-se na única cadeira existente no recinto. Enquanto a fila não se mexia, ela começou a remexer a enorme bolsa, com vários compartimentos e vira para lá, vira para cá, tirou dois celulares e continuava a procurar algo sem parar.

Até que das entranhas da sacola surge uma empadinha encaixada perfeitamente na forminha de papel e intacta. Hora do almoço a fulana começa a devorar a empadinha esfarelando-se ao pé da fila.

Como poderia a empadinha ter sobrevivido à bolsa revirada? Estaria em uma destas caixinhas plásticas? Seria de queijo, frango ou camarão? Com azeitona? Será que tinha mais empadinhas na bolsa.

A fila anda alguém me pergunta algo, me distraio e de repente lá estava à loura atrás de mim lambendo os dedos já com saudades. Finalmente alforriada da fila saio do cartório e vejo na calçada o camelô duas caixas de isopor lotadas de empadinhas, reviradas pareciam embalsamadas e custa só um real

domingo, 13 de junho de 2010

Minhas (próximas) Férias

Lembram quando as férias escolares duravam três meses? Naquela época mães eram na sua maioria somente mães. O adultério era crime e pecado, mas aceitável no verão, em que pais ficavam na cidade durante a semana enquanto a família curtia alguma praia.

As crianças brincavam de bola, peão, pique e soltavam pipa, programas simples e baratos, bem diferente de hoje que consomem no shopping , jogam vídeo game , falam no celular e se penduram no MSN.

Férias de mais de um mês ficaram economicamente inviáveis, da latinha de cerveja a diária de qualquer pousada, tudo fica pelo dobro, já os congestionamentos ficam pelo triplo. Chegar ao destino das férias é um desafio, seja qual for o meio de transporte, carro, ônibus ou avião, este último então virou um assombro do desatendimento.

Chegando ao tão sonhado destino falta de tudo: água , luz, comida no supermercado e paciência aliás, é preciso bem menos paciência para aturar o trabalho do que o stress produzido pelo cachorro, crianças e cunhados juntos . Assim, ainda resta uma esperança , se você está de férias, significa que seu chefe está trabalhando, ou seja, ele vai te ligar no celular, mandar e-mail e quem sabe te chamar de volta, coisa que te deixará extremamente feliz pensando que você é insubstituível.Pode ser ainda que você seja o chefe , seus funcionários ligarão e essa será a desculpa para você voltar antes afinal, já é comprovado cientificamente que entrar abruptamente de férias produz traumas psicológicos que podem causar de febre alta sintomas relacionados a tensão

Outro fenômeno é que desde o Bateau Mouche a cada verão somos surpreendidos por uma sequencia de catástrofes, a s enchentes já nem são novidade perto de tsunamis e terremotos . Minha avó diria que é resultado dos excessos da vida mundana , um sinal do final dos tempos , uma Sodoma e Gomorra anunciada , a porta do inferno,. mas inferno mesmo é que nas férias todo mundo faz a mesma coisa ao mesmo tempo. Sobra gente , carregando o tradicional isopor , esporte praticado inclusive pela presidência da republica , a turma também se diverte com bóias de tubarão em tamanho natural , continuo achando que na forma humana seria mais interessante.

É a ilusão da diversão comprada enquanto o Jornal Nacional anuncia o melhor Natal de todos os tempos, discorrendo logo em seguida sobre a s contas de começo de ano , experimente gravar e assistir no ano seguinte , fora a grisalice ou uns quilinhos a mais no locutor a notícia será a mesma .

Na sequencia das notícias de verão, mal somem os recheados panetones surge a rechonchuda globeleza e , quando conseguimos acordar deste surto hipnótico produzido pelo calor tropical de cinqüenta graus, chegamos as águas de março que, como as férias, também abreviaram a chegada. E aí, tudo nos faz pensar como o trabalho é estressante, o salário curto, que este ano quase não tem feriado, mas ainda bem , falta só abril, maio e junho para finalmente curtir uns dias de férias com a família .

Outono

E chega o outono, podemos dizer com certo alívio, afinal apurou-se ser o Rio o segundo lugar mais quente do planeta.

Outono é das estações a com menos glamour, não há muito que programar, é deixar fluir, é querer que ainda esteja sol no feriado, é esperar o frio pra curtir as férias de inverno. No outono tudo fica meio despido de graça como as árvores desfolhadas.

Entre os preparativos para o inverno entra no ar a campanha de vacinação da gripe, este ano incrementada pelo vírus de nome complicado H1N1.

Eu, que todo ano carimbo minha carteirinha na vacina tradicional fui à busca dos detalhes. Não era necessário, faço parte do grupo excluído, não estou grávida, não sou médica, idosa ou criança e nem doente crônica.

De forma resumida, a população ativa entre quarenta e cinqüenta e nove anos não faz parte do grupo de risco, portanto não será vacinada. Ainda que seja o maior contribuinte dos planos de saúde, mantenedora de crianças e idosos, esta turma, da qual faço parte, pode ser contaminada.

Estamos mesmo no outono da vida, aquela idade sem graça que nem para vacinar serve. Vamos esperar o inverno!