Olá, Bem Vindo ao Cenas, Cenários & Senões

Publico aqui textos de observação do cotidiano na forma de crônicas e contos.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

E-mail para Papai Noel

Querido Papai Noel,

Já faz muito tempo da minha última correspondência, resolvi assim mandar este e-mail para resgatar nosso contato.

Provavelmente minha ficha cadastral foi arquivada, espero não destruída, e sim digitalizada para algum arquivo remoto.

Lembro aqui que minha última carta pedia uma boneca Tippy, das mais modernas na época, falava, caminhava e usava um triciclo: O máximo! Recebi, como sempre, o solicitado, após seguir o triciclo por três voltas, me desinteressei completamente...

Na verdade, bonecas nunca foram a minha preferência, convencida pela mídia e pelas amigas da pracinha, parecia aquele o objeto de desejo, me alegraria muito mais com canetinhas coloridas, tintas, telas, blocos de montagem ou algo assim.

No ano seguinte a Tippy, um boato invadiu minha vida, todos diziam que você não existia, que de fato era tudo uma invenção, feita para vender mais bonecas, carrinhos ou o que fosse, era minha estréia no mundo capitalista. Acreditei e não acreditei...Seria mesmo verdade que você, as renas, a fábrica de brinquedos fossem um golpe de marketing? Uma invenção dos adultos? A dúvida me atormentou até a próxima cartinha... Investigativa, perguntei aos primos, amigos, irmãos, cada um achava algo, as opiniões se dividiam, nenhuma explicação me satisfez e resolvi fazer um teste...

Escrevi uma carta como sempre, mas não mandei, ou melhor, não pedi para minha mãe mandar. Achava que você não se esqueceria de mim, que você era mágico, mas meu pedido não foi atendido e a partir daí me convenci que você não existia mesmo, passei a pactuar desta verdade, entre amigos e familiares e com o tempo o assunto foi esquecido.

Agora a tecnologia me trouxe tantos esclarecimentos, você já era clonado naquela época, o traje de inverno era proteção para a estabilidade térmica necessária para que seu corpo transitasse por todos os hemisférios, já naquele tempo você podia viajar além da barreira do som e se materializar em lugares diversos, você conseguia criar realidades virtuais para trazer alegria a todos em muitos lugares.

Hoje vejo como fui injusta em não acreditar na sua existência e magia, apenas por um simples deslize e foi assim que resolvi rever a minha atitude. Esta carta não pede carros, viagens, jóias ou outros brinquedos de interesse atual. É uma carta resgate.

Vejo as crianças de hoje, mesmo com conhecimento e informação tecnológica, em dúvida. Sabe Papai Noel, acho que falta uma estratégia de comunicação e atendimento ao cliente, as crianças mudaram, mas os adultos também.

Até posso ajudar com uma consultoria, se for de seu interesse. Não, não...Não me entenda mal, não estou querendo vender meu peixe, apesar de que um servicinho extra seria muito bom.

Veja bem, os ganhos de Natal podem se multiplicar, o público alvo pode ser estendido da população infantil para os adolescentes e adultos. O trabalho vai aumentar, o atendimento de pedidos de adultos será incrível. Isto mudará tudo! Mudará o mundo!

Casas, carros, amores, empregos, pedidos diversos darão origem a um outro net de fornecedores que multiplicará sua área de atuação e o tornará uma celebridade no mundo adulto, o objeto de desejo dos finais de ano e claro, melhorará o comportamento de toda esta turma...Porque valeriam as mesmas regrinhas da infância...Fez tudo direitinho, se comportou bem.Papai Noel vai chegar!

Então Papai Noel, esta mudança é essencial, você deve isto ao mundo, e eu acredito em você. Abra um novo segmento de atuação, tendo adultos como público alvo, reestruture o próximo natal.

Meu pedido é a criação de uma nova base de dados, que minha ficha seja desarquivada, ou melhor, que seja feita uma nova, segue em anexo os dados atualizados. Espero que meu pedido seja atendido.

Feliz Natal!






sábado, 7 de novembro de 2009

Carta da Fé

Caro Deus

Escrevo porque já desisti de não acreditar, por mais questionamentos que minha mente intelectualizada insista em impor desisti da descrença . Teu silencio me venceu .

Não és a figura estereotipada do velhinho bondoso que nos assiste dos céus, estas espalhado por aí como água , vento , areia, Tua força se mostra naturalmente com sabedoria silenciosa e insistimos em não escutar suplicando em templos pela tua presença .

Em nome de Ti e de crenças criadas construímos barreiras do preconceito fazemos guerra, morte e sofrimento e depois oramos por Teu perdão.

Quanto menos acredito nestes dogmas , nos rituais , nas consagrações mais creio em Ti, mais vejo Tua presença se espalhando no mundo como uma hera que se infiltra em cada fresta .em busca de luz .

Não chegas para todos com a mesma forma e energia , És generoso com quem te agradece e não com quem te venera , és justo com quem evolui e não com quem em teu nome chafurda na inércia do não merecimento .

Não há diferenças para ti mas a evolução e gratidão alimentam tua energia cíclica . Quando te agradeço o que me destinas diariamente e acalento a fé morna sem os questionamentos de insanos porquês , apareces para mim vestindo de luz minha escuridão interior e aquietando o medo do meu coração como faz uma mãe com seu bebê.

Obrigado pelo seu ninho , não te prometo nada porque não é isto que queres não te ofereço nada além deste olhar onde te vejo entrar em todas a s dimensões que de mim são próximas e no que passa pelo meu caminho

Quando fico míope para tua luz tudo embaça, embaraça e passo a ser uma marionete andróide que marcha na direção errada implorando sem agradecer .

Monica .

sábado, 1 de agosto de 2009

SALVE-ME




Estamos destruindo a camada de ozônio. Fumamos. Desperdiçamos água e comida. São milhares de sacolas plásticas e garrafas pets que estarão aqui pelos próximos duzentos anos, para nossos filhos assexuados que não nascerão de óvulos congelados e ventres estéreis. Não comprem produtos asiáticos e piratas. Não comam carne vermelha. Sejamos todos magros, malhados, sarados, modelos pet. Não faço abdominal, não corro. Odeio a fashion week. Participe do Planet Green. Seja orgânico e orgástico. Faça sexo seguro com Viagra. Uma bomba atômica iraniana ou um meteorito nos dizimará em breve. Salvem as baleias. O único golfinho que sobreviverá é Flipper. O botox é o novo prozac. Mau humor é doença, estou à morte. Não emitam gás carbônico, incluindo peidos. Metade das árvores cortadas no planeta é destinada à fabricação de papel . Na Espanha, esta semana um incêndio destruiu milhares de árvores o que anula todo o papel reciclado que usei no último ano. Ocorreu-me que pode haver mais páginas de livros que papel higiênico e a mesma proporção de merda para ambos. Pensando melhor, para escrever não é preciso papel, mesmo assim será que vale a pena escrever sobre isso?

domingo, 19 de julho de 2009

Medo do Medo

Resolvi fazer um curso de PNL, para quem não sabe o que é, programação neurolinguística. A promessa era a de mudar a vida para sempre, seria outra pessoa. Não tinha tanta ilusão, se conhecesse alguém interessante por lá já estaria no lucro.

O método consistia em uma série de técnicas e exercícios que seriam praticados em sala de aula e lá foi ela. Em meio à dancinhas, palmas e gritos de uh uh, as mágicas eram ensinadas. Lá pelo terceiro módulo a técnica do dia prometia acabar com medos e fobias, assim de forma abrangente. Podia ser qualquer tipo de paúra, falar em público, assalto, dirigir, voar e por aí vai.

Ensinado o exercício, a idéia era testar, um participante aplicaria no outro. O medo em questão não precisava ser divulgado, mas seria eliminado em minutos. A primeira coisa que veio a cabeça foi o medo de barata, era pânico, chegava a sonhar com elas. Tinha passado por várias experiências horrorosas como baratas na camisola e no carro, neste caso quase um acidente.

Acertado o medo a ser eliminado foi aplicada a tal solução milagrosa que se resumia a uma visualização guiada revivendo os momentos pré, durante e pós o evento mais significativo com as baratas. Sob a orientação do aplicador, repetida a visualização por três vezes a experiência se transformaria de horrorosa para suportável e assim foi feito.

Saiu de lá exatamente como entrou, só saberia se o tal método funcionava se topasse com uma barata pela frente, coisa continuava preferindo não acontecesse tão cedo

Passaram-se meses, já nem se lembrava do episódio quando nos quarenta graus do verão carioca chegou em casa e ela já estava lá, marrom , brilhante, debochadas anteninhas se mexendo, confortavelmente instalada na cerâmica branca do piso da cozinha .

Até hoje, não sabe bem como, atravessou o cômodo, abriu o armário da área de serviço retirou o spray e shhhhhh na barata que encharcada deu o último suspiro. Só ai percebeu que ela mesma estava sem respirar a mão suava, correu para o banheiro com uma dor de barriga daquela que só o pânico pode provocar! Pegou o jornal enquanto relaxava tentando superar o episódio e lá estava a matéria “O medo é o maior problema do ser humano”, discorria sobre as aplicações da neurolinguistica na superação de medos diversos.

Já sei que um dia nunca mais

Já cresci, já comi na panela, já fui vaca amarela.
Já engoli chiclete e outras coisas.
Já perdi chaves, carteira, óculos, a cabeça. Já voltei a mim.
Já comi sem vontade. Já menti a idade. Já cai na real.
Já recebi flores, telegrama, fax, e-mail, SMS, má notícia
Já lambi os dedos.
Já dormi em barraca, já sonhei acordada, já acordei molhada.
Já cai em cilada. já dei mancada.
Já cansei de esperar, já parei de pensar já pensei sem parar .
Já corri atrás , Já busquei a paz.
Já errei a estrada, já cai de quatro.
Já soltei pipa e o verbo.
Já saí à francesa, já dormi na mesa.
Já escapei por pouco , já enganei a morte. Já tive sorte.
Já ri sem parar, já parei de rezar,.
Já senti dor , já esqueci um amor,
Já me vesti de noiva, baiana e cigana.
Já pintei e bordei.
Já deprimi , analisei e ri
Já tive medo, até de brinquedo.
Já fui cinderela
Já falei com Deus
Já falei e disse.


Nunca dei calote , passei trote , tive um fricote.
Nunca fumei, cherei, ameacei
Nunca perdi o rumo , sai do prumo .
Nunca gostei de jiló , fígado e do óbvio,
Nunca andei de bicicleta , nem fui atleta
Nunca dei uma pirada
Nunca fui reprovada
Nunca tive caxumba
Nunca dei para trás Nunca dei muita bola
Nunca comi de tudo
Nunca fui famosa, nem a gostosa
Nunca quebrei espelho,
Nem esquiei no gelo
Nunca saí na Sapucaí
Nunca emprenhei , embuchei, pari
Nunca desisti
Nunca fui à lua, Nunca fui só sua
Nunca confessei
Nunca larguei o inglês, nunca comi japonês
Nunca mergulhei de cabeça , nem vi a coisa preta
Nunca surtei de vez, Nunca brindei a três
Nunca comi de tudo
Nunca matei. Só o tempo
Nunca morri, Só de tédio
Nunca falei sobre isso.


Um dia vou me mandar ,
Mudar de novo.
Vou escrever, rasgar, reescrever, publicar,
Vou confessar,
Vou me perder,
Vou te rever,
Vou emagrecer, juntar, engordar, separar ,me ajustar.
Vou comer por prazer
Vou esperar mais um pouco,
Vou sentir remorso, ter um troço ,
Vou demorar a voltar, Vou seguir o bloco.
Vou amar por amor,Rezar com fervor,
Vou manter aceso.
Vou jogar a toalha, me livrar da tralha.
Vou chutar o balde, o pau da barraca , a bola , gol
Vou mentir sem razão
Implorar por perdão
Vou sofrer com barulho, orgulho e entulho.
Vou criticar
Vou subir nas tamancas, descer do salto ,
Vou comprar sapatos
Vou parar de errar ,
Vou montar uma tenda
E um dia vou viver de renda

domingo, 14 de junho de 2009

Vestido


Era época de casamento, dos outros! Explico, em dois meses tenho quatro casamentos para ir, em dois sou madrinha, três são da família, em todos o ex estará e eu irei sozinha, dois serão no mesmo lugar , aquele Buffet que do estacionamento ao salão tem um quilometro de ladeira , apropriada para salto alto .

Pode parecer minimamente engraçado, mas não é, antes de tudo é caro; roupa, produção, presente, todas estas frescuras para cinco minutos de fotografia e quatro horas em que seria melhor ler um livro chato.

Ali estava eu diante de cinco vestidos, um emprestado, um alugado, dois usados sendo um apertado e um fora de moda e o longo vermelho novinho em folha. Desanimadamente tentava distribuir os vestidos nos eventos e os sapatos nos vestidos

Nem sempre sou assim, em geral adoro festas, mas desde que ele, o ex, disse que não me prometia nada, minha alma perdeu a inocência. Arrrghhh! Parece uma letra do Paul McCartney essa chorumela! Mas a verdade é que mudei de forma quase imperceptível, parei de me comportar como se estivesse em uma gincana aonde a infelicidade esta instalada e meu objetivo esta sempre no futuro que tenho que alcançar.Como me preocupei com as sandices do amanhã, coisas sem importância. Se um dia eu pudesse voltar!

Pelo menos hoje acho que posso mudar essa trilha sonora single beatle . Para que ser tão imperceptível? Coloquei um CD da Ivete no último volume, peguei a tesoura e cortei o longo vermelho um palmo a cima do joelho.

sábado, 6 de junho de 2009

Contador de Histórias

Era um contador de histórias e casos destes que se encontram como moscas em mesas de bar. Prolixo como só ele, emendava uma história na outra, repetindo frases feitas e chavões, no trabalho era o chato do almoço e café. Os casos só interessavam aos desavisados, a esposa era meio surda e suportava-o matraqueando tanto quanto ele assuntos que não faziam sentido entre si.
Nutria seu repertório lendo avidamente jornais e revistas e invariavelmente sacava da referência: “Você viu aquele caso que publicaram...” e por aí desfiava sua ladainha contínua, recheada de comentários, críticas e analogias para encompridar o assunto durante três longas cervejas.
Foi assim em meio as leituras diárias que viu um destes minúsculos anúncios de classificados “Procura-se contador de histórias”, simples assim, seguido de um telefone para contato. A curiosidade acesa engasgou com aquilo. Seria exatamente o que ? Um emprego? Um golpe? Um trote?Recortou o jornal , colocou na carteira e não ligou. Passou dois dias meio calado ,todos dando graças ao Senhor , quem sabe um milagre da providência divina congregando as orações proferidas .
Aquele anúncio não lhe saia da cabeça ,mas cauteloso que era não se decidia por ligar
Por fim, quatro dias depois a curiosidade venceu . A ligação é atendida por uma gravação.
“Você ligou para a Central de Contadores de Histórias”
“Dique 1 para Infantil , disque 2 para adulto , disque 3 para ...disque nove para ser atendido”
“ Um instante sua ligação é importante para nós , vamos transferir para o atendimento personalizado".
Atende uma moça .
“Pois não, em que posso ajudá-lo?"
“Hãã..." Ali estava ele sem palavras
“Bem é que eu vi um anúncio”
“Ah sim ! O senhor é contador de histórias? Tem experiência anterior?
Contador de histórias virara uma profissão e ele nem sabia.
“Como assim experiência? Eu conto histórias e pronto...
“Bem , senhor a Central de Contadores de Histórias precisa profissionais especializados, porém o senhor pode “estar enviando” um currículo para análise. Podemos receber por correio ou eletronicamente”
“Mas, minha filha, o que consta exatamente no currículo de um contador de histórias? Que tipo de experiência é necessária?"
“Sr. Nosso serviço prima pelos padrões de qualidade da história , locução, coerência, fantasia."
“Sim , mas quem exatamente vocês atendem ?”
“A qualquer pessoa que disque para nossa central , buscando uma história através do menu de serviços”
“É mesmo?
“Sim , nossa central atende pelo número...”
“E quantas ligações vocês recebem ?” Interrompeu ele .
“Bem, aqui na cidade recebemos cerca de duas mil ligações dia “
“Tantas pessoas assim para ouvir histórias?”
“ É sim, para diversos segmentos”
“E no caso deste contador solicitado no anúncio?”
“Ah sim , esta é uma vaga especial”
“Especial?”
“Sim, é para contar histórias para idosos , um projeto patrocinado por uma ONG”
Ele nunca mais contou histórias em casa e no trabalho.

sábado, 28 de março de 2009

VAGA

Um vocábulo me persegue. Já aconteceu com você? Por toda a parte lá está a palavra, fica girando na cabeça até parar no meio da página de um livro ou explodir na voz noturna do William Bonner.

No caso aqui a palavra é vaga, sim a própria V – A – G - A, o que denota espaço a ser ocupado, acaba ocupando todo o espaço possível em minha mente. Começo a pensar sobre esta determinada palavrinha que nada diz e para tudo é usada.

Vaga é para preencher ocupar, procurar, estacionar. Vaga é a idéia, a forma, o conteúdo, a surpresa, a impressão.

As vagas são raras. No vestibular, na fila, no shopping, tem até aqueles que comercializam: “Aluga-se vagas para rapazes” e os que abusam “Ah, Dona! Me ajuda que ajudo a achar vaga!”.

São cobiçadas estas vagas, tem milhões e milhões em busca, o governo retém e legisla: “As vagas existem, mas não foram preenchidas”. Procurou emprego e não achou, é vagabundo. Falou sem conteúdo, foi vago e por aí vai uma vaga idéia do que acontecem com as vagas.

Vaga também pelo espaço a nave lançada com orgulho e, no telescópio, observamos envaidecidos aquele minúsculo pontinho cintilante do tamanho de um vaga-lume.

Vaga se conquista. Na copa, ufa! Nas olimpíadas, na areia lotada de Copacabana. Nas delegacias não há mais vagas. Nas janelas, nas vitrines, nas portas, nas obras, tabuletas informam se há vagas.

“E com uma proposta vaga o Congresso Nacional decide...” e o que vem depois não se tem a mais vaga noção!

O corretor mostra a vista maravilhosa do apartamento enquanto o casal pergunta: “Quantas vagas?” Na capa a revista semanal anuncia cadeira vaga na Academia Brasileira de Letras, o jornal complementa questionando o destino da vaga.

As vagas são temporárias vem e vão com o Natal, Páscoa e verão. Nos consultórios a hora vaga é prejuízo, na sala de aula, felicidade da moçada. Vagas são populares, atraem multidões, formam fila, se comemora o aumento e a queda.

Ter vaga pode ser bom ou ruim, a vaga está lá, do tamanho da carência, atendendo expectativas com o vazio da própria voz.

E nas horas vagas, cansados entre vagas já preenchidas, procuramos uma vaga lembrança, com olhar vago uma vaga em algum coração.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Coisas de Casal II

Estavam em lua de mel, o casamento tradicional na igreja fora no sábado, viajaram no domingo, vindos do Ibi...alguma coisa, no interior da Bahia. Viajaram quarenta e cinco quilômetros para a esta distância passarem a inédita experiência da lua de me em um lugarejo no litoral tiraram foto do mar e d barco e ela dele e ele dela, para registrarem aquele inesquecível momento.

Ele o noivo, cuidadoso contratou um guia que os levaria por um preço abusivo a paria ao lado aonde tinha o mar, o sol, uma barraca de coco e nada mais. Lá foram eles entusiasmados no barco aonde o guia contava a todos, inverossímeis histórias da fundação da cidade e da miraculosa argila que faria a todos rejuvenescerem. Ra imperdível por apenas uma outra abusiva quantia poderiam se lambuzar com aquela coisa nojenta e ela tirou fotos dele e ele dela e se deliciaram com as caras pintadas no clima dos casais

Lá pelas tantas o incrível guia que continuava a ilustrar o passeio com a sabedoria nativa informou que poderiam por um abusivo preço não incluído degustar o maravilhoso peixe local, diferente de tudo o que já tinham visto e ainda como cortesia pela lua de mel a sobremesa seria por conta da casa. Sorridente, o casal prontamente assentiu, encantado com a incrível oportunidade e acompanhados pelas moscas nativas brindaram ela com um coco, ele com uma cervejinha, aquela experiência inesquecível e ela fotografou ele e ele a ela e se deliciaram com o pf com molho nativo, no clima dos casais.

Mas o melhor ainda estava por vir: A sobremesa cortesia!Parecia mesmo encomendada para a ocasião, eram morangos.

Ao que se sabe nem o guia tinha uma inverossímil explicação para a aparição da romântica fruta na Bahia dos cajus, cajás e graviolas. Turista alguma, gringos em especial achariam interessante, mas eles adoraram afinal, ele o noivo nunca havia visto e muito menos provado aquela vermelha delícia e a lua de mel estava perfeita com mais esta inédita experiência.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Coisas de Casal I

Eu viajava sozinha, uma boa coisa para observações, apesar de não ter com quem tecer comentários, tinha a oportunidade de ver aquilo que nem prestaria atenção se acompanhada.
Estava no terceiro translado de uma pequena saga peregrinante para chegar a uma praia prometidamente paradisíaca. Os atrasos se acumulavam desde a saída da civilização e quaisquer que fossem as promessas de férias ou descanso, naquele momento estavam soterradas pela fome cansaço e ódio da incompetência turística.
Bem, estava eu ali naquela sala de espera apertada que precedia um vôo de táxi aéreo para oito ilustres passageiros; ao meu lado um casal, já nem tão jovem, seus quarentinha, com certeza. Não se sabia se eram casados ou não, não usavam aliança, conversavam trivialidades, não havia troca de carinhos, de repente, o papo tomou o rumo dos planos de uma festa de casamento. Era aí que o casal estava, planejavam se casar logo.

Ela, a noiva, de forma inábil, resolveu, neste momento do translado, convencer a ele, o noivo, que queria casar na praia, mais precisamente na Ilha Bela, em uma festa para amigos somente, sem aquela “parentada” dele – palavras dela. E, claro, em contrapartida, não convidaria seus parentes também.

Logo começaram as questões, levantadas por ele. E os pais? Ah sim! Somente os pais poderiam ir. E os irmãos? Cunhados? Sobrinhos? Ah, estes não! Afinal seria uma festa só para amigos. Uns cinqüenta, ela tinha pensado e foi logo dizendo que como de verdade, de verdade mesmo ele só tinha uns dez amigos, as outras vagas seriam para ela. Por quê na praia? Perguntou ele. Porque eu quero e pronto! Mas vai ser de noiva? É, assim uma coisa simples, mas branco! Afinal era seu sonho, disse ela. Ele, preocupado, disse que tudo ia sair muito caro. Aonde iam hospedar todos? Ela, já tinha a solução óbvia, na pousada da Carminha, uma prima. Mas os primos não estavam vetados? Ah! Mas a Carminha, não...Era mais que uma prima!

Ele disse que não ia dar certo. A família dele era unida, os pais não iam entender, já estava até vendo a mãe chorando. Era melhor não fazerem nada, sem festa! Só o cartório e pronto!
Ela emburrou. Era o casamento deles. Só porque a mãe dele tinha cinco irmãos, o pai sete e juntos tinham tido quatro filhos ela não podia casar na praia? Fez bico, disse que ele não a entendia, que a família dele sempre era mais importante que ela. O irmão mais velho dele, bem de vida, nem tinha aceitado ser fiador do apartamento.

E foi nessa abençoada hora que o rapaz veio avisar que finalmente o avião decolaria. Seguimos para pista em uma Kombi, velha e apertada, mais apertada ainda com a tromba do casal casante.

No avião, ela já tinha mudado o assunto, para agradáveis estórias de panes e pânicos, vividas e contadas por todos aqueles superamigos convidados da festa.

Ele, o noivo, decolou e aterissou com a tromba Foi assim, com aquela historia de festa na cabeça, enquanto ela tagarelava sobre o mar, o caminho, o sol, o passeio do dia seguinte.

Neste ponto, finalmente nos separamos, cada um para seu destino, mas posso até ouvir, à noite, luz apagada, depois do banho e jantar ela pergunta: - Amor, o que você tem? Está tão quieto!