Olá, Bem Vindo ao Cenas, Cenários & Senões

Publico aqui textos de observação do cotidiano na forma de crônicas e contos.

domingo, 19 de julho de 2009

Medo do Medo

Resolvi fazer um curso de PNL, para quem não sabe o que é, programação neurolinguística. A promessa era a de mudar a vida para sempre, seria outra pessoa. Não tinha tanta ilusão, se conhecesse alguém interessante por lá já estaria no lucro.

O método consistia em uma série de técnicas e exercícios que seriam praticados em sala de aula e lá foi ela. Em meio à dancinhas, palmas e gritos de uh uh, as mágicas eram ensinadas. Lá pelo terceiro módulo a técnica do dia prometia acabar com medos e fobias, assim de forma abrangente. Podia ser qualquer tipo de paúra, falar em público, assalto, dirigir, voar e por aí vai.

Ensinado o exercício, a idéia era testar, um participante aplicaria no outro. O medo em questão não precisava ser divulgado, mas seria eliminado em minutos. A primeira coisa que veio a cabeça foi o medo de barata, era pânico, chegava a sonhar com elas. Tinha passado por várias experiências horrorosas como baratas na camisola e no carro, neste caso quase um acidente.

Acertado o medo a ser eliminado foi aplicada a tal solução milagrosa que se resumia a uma visualização guiada revivendo os momentos pré, durante e pós o evento mais significativo com as baratas. Sob a orientação do aplicador, repetida a visualização por três vezes a experiência se transformaria de horrorosa para suportável e assim foi feito.

Saiu de lá exatamente como entrou, só saberia se o tal método funcionava se topasse com uma barata pela frente, coisa continuava preferindo não acontecesse tão cedo

Passaram-se meses, já nem se lembrava do episódio quando nos quarenta graus do verão carioca chegou em casa e ela já estava lá, marrom , brilhante, debochadas anteninhas se mexendo, confortavelmente instalada na cerâmica branca do piso da cozinha .

Até hoje, não sabe bem como, atravessou o cômodo, abriu o armário da área de serviço retirou o spray e shhhhhh na barata que encharcada deu o último suspiro. Só ai percebeu que ela mesma estava sem respirar a mão suava, correu para o banheiro com uma dor de barriga daquela que só o pânico pode provocar! Pegou o jornal enquanto relaxava tentando superar o episódio e lá estava a matéria “O medo é o maior problema do ser humano”, discorria sobre as aplicações da neurolinguistica na superação de medos diversos.

Já sei que um dia nunca mais

Já cresci, já comi na panela, já fui vaca amarela.
Já engoli chiclete e outras coisas.
Já perdi chaves, carteira, óculos, a cabeça. Já voltei a mim.
Já comi sem vontade. Já menti a idade. Já cai na real.
Já recebi flores, telegrama, fax, e-mail, SMS, má notícia
Já lambi os dedos.
Já dormi em barraca, já sonhei acordada, já acordei molhada.
Já cai em cilada. já dei mancada.
Já cansei de esperar, já parei de pensar já pensei sem parar .
Já corri atrás , Já busquei a paz.
Já errei a estrada, já cai de quatro.
Já soltei pipa e o verbo.
Já saí à francesa, já dormi na mesa.
Já escapei por pouco , já enganei a morte. Já tive sorte.
Já ri sem parar, já parei de rezar,.
Já senti dor , já esqueci um amor,
Já me vesti de noiva, baiana e cigana.
Já pintei e bordei.
Já deprimi , analisei e ri
Já tive medo, até de brinquedo.
Já fui cinderela
Já falei com Deus
Já falei e disse.


Nunca dei calote , passei trote , tive um fricote.
Nunca fumei, cherei, ameacei
Nunca perdi o rumo , sai do prumo .
Nunca gostei de jiló , fígado e do óbvio,
Nunca andei de bicicleta , nem fui atleta
Nunca dei uma pirada
Nunca fui reprovada
Nunca tive caxumba
Nunca dei para trás Nunca dei muita bola
Nunca comi de tudo
Nunca fui famosa, nem a gostosa
Nunca quebrei espelho,
Nem esquiei no gelo
Nunca saí na Sapucaí
Nunca emprenhei , embuchei, pari
Nunca desisti
Nunca fui à lua, Nunca fui só sua
Nunca confessei
Nunca larguei o inglês, nunca comi japonês
Nunca mergulhei de cabeça , nem vi a coisa preta
Nunca surtei de vez, Nunca brindei a três
Nunca comi de tudo
Nunca matei. Só o tempo
Nunca morri, Só de tédio
Nunca falei sobre isso.


Um dia vou me mandar ,
Mudar de novo.
Vou escrever, rasgar, reescrever, publicar,
Vou confessar,
Vou me perder,
Vou te rever,
Vou emagrecer, juntar, engordar, separar ,me ajustar.
Vou comer por prazer
Vou esperar mais um pouco,
Vou sentir remorso, ter um troço ,
Vou demorar a voltar, Vou seguir o bloco.
Vou amar por amor,Rezar com fervor,
Vou manter aceso.
Vou jogar a toalha, me livrar da tralha.
Vou chutar o balde, o pau da barraca , a bola , gol
Vou mentir sem razão
Implorar por perdão
Vou sofrer com barulho, orgulho e entulho.
Vou criticar
Vou subir nas tamancas, descer do salto ,
Vou comprar sapatos
Vou parar de errar ,
Vou montar uma tenda
E um dia vou viver de renda