Olá, Bem Vindo ao Cenas, Cenários & Senões

Publico aqui textos de observação do cotidiano na forma de crônicas e contos.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Coisas de Casal I

Eu viajava sozinha, uma boa coisa para observações, apesar de não ter com quem tecer comentários, tinha a oportunidade de ver aquilo que nem prestaria atenção se acompanhada.
Estava no terceiro translado de uma pequena saga peregrinante para chegar a uma praia prometidamente paradisíaca. Os atrasos se acumulavam desde a saída da civilização e quaisquer que fossem as promessas de férias ou descanso, naquele momento estavam soterradas pela fome cansaço e ódio da incompetência turística.
Bem, estava eu ali naquela sala de espera apertada que precedia um vôo de táxi aéreo para oito ilustres passageiros; ao meu lado um casal, já nem tão jovem, seus quarentinha, com certeza. Não se sabia se eram casados ou não, não usavam aliança, conversavam trivialidades, não havia troca de carinhos, de repente, o papo tomou o rumo dos planos de uma festa de casamento. Era aí que o casal estava, planejavam se casar logo.

Ela, a noiva, de forma inábil, resolveu, neste momento do translado, convencer a ele, o noivo, que queria casar na praia, mais precisamente na Ilha Bela, em uma festa para amigos somente, sem aquela “parentada” dele – palavras dela. E, claro, em contrapartida, não convidaria seus parentes também.

Logo começaram as questões, levantadas por ele. E os pais? Ah sim! Somente os pais poderiam ir. E os irmãos? Cunhados? Sobrinhos? Ah, estes não! Afinal seria uma festa só para amigos. Uns cinqüenta, ela tinha pensado e foi logo dizendo que como de verdade, de verdade mesmo ele só tinha uns dez amigos, as outras vagas seriam para ela. Por quê na praia? Perguntou ele. Porque eu quero e pronto! Mas vai ser de noiva? É, assim uma coisa simples, mas branco! Afinal era seu sonho, disse ela. Ele, preocupado, disse que tudo ia sair muito caro. Aonde iam hospedar todos? Ela, já tinha a solução óbvia, na pousada da Carminha, uma prima. Mas os primos não estavam vetados? Ah! Mas a Carminha, não...Era mais que uma prima!

Ele disse que não ia dar certo. A família dele era unida, os pais não iam entender, já estava até vendo a mãe chorando. Era melhor não fazerem nada, sem festa! Só o cartório e pronto!
Ela emburrou. Era o casamento deles. Só porque a mãe dele tinha cinco irmãos, o pai sete e juntos tinham tido quatro filhos ela não podia casar na praia? Fez bico, disse que ele não a entendia, que a família dele sempre era mais importante que ela. O irmão mais velho dele, bem de vida, nem tinha aceitado ser fiador do apartamento.

E foi nessa abençoada hora que o rapaz veio avisar que finalmente o avião decolaria. Seguimos para pista em uma Kombi, velha e apertada, mais apertada ainda com a tromba do casal casante.

No avião, ela já tinha mudado o assunto, para agradáveis estórias de panes e pânicos, vividas e contadas por todos aqueles superamigos convidados da festa.

Ele, o noivo, decolou e aterissou com a tromba Foi assim, com aquela historia de festa na cabeça, enquanto ela tagarelava sobre o mar, o caminho, o sol, o passeio do dia seguinte.

Neste ponto, finalmente nos separamos, cada um para seu destino, mas posso até ouvir, à noite, luz apagada, depois do banho e jantar ela pergunta: - Amor, o que você tem? Está tão quieto!